quarta-feira, 29 de junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

maria veleda, a vermelha feminista


“Pobres éramos, pobres ficámos e pobres somos, mas nas nossas almas arde sempre a mesma chama sacrossanta que nos iluminava quando gritámos pela primeira vez: Viva a República! Porque acima da Morte que me espera, está o ideal que me norteia. Sim. Viva a República.”

Maria Veleda






Apresentada pelo Professor Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, a Professora Natividade Monteiro proferiu a sua conferência no IV Ciclo “As Mulheres e a I República”, com o título “Maria Veleda (1871-1955: feminista, republicana, pedagoga e livre-pensadora”.














Considerando inicialmente que Maria Veleda (pseudónimo de Maria Carolina Frederico Crispem) desde muito cedo se dedicou a causas políticas e sociais, que incomodava os poderes instituídos (eclesiásticos e políticos) – aliás, o seu artigo “A Propósito”, publicado no jornal “A Vanguarda” em 9 de Fevereiro de 1908, a seguir ao regicídio, que esgotou duas edições do mesmo jornal, valeu a Maria Veleda um processo-crime por abuso de liberdade de imprensa, valendo-lhe as suas correligionárias da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, e testemunhando a seu favor personalidades como António José de Almeida, João Chagas, Manuel de Arriaga ou Ana de castro Osório, entre outras –, que não se assustava com ameaças, não concordou com o voto restrito, pretendendo o voto para todas as mulheres. Considerava igualmente, por exemplo, que o anti-clericalismo e o anti-jesuitismo deveria ser discutido na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, situação que nunca agradou, por exemplo, a Ana de Castro Osório.





A Professora Natividade Monteiro e o Professor Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, na apresentação da conferencista.







Filha da classe média algarvia, o pai, João Diogo Frederico Crispim, desempenhou cargos de relevo no município de Faro e foi director da Sociedade Teatral da mesma cidade, enquanto que a mãe, Carlota Perpétua da Cruz Crispim, pertencia à burguesia proprietária local. Desta forma, seria influenciada Maria Veleda pelo teatro, sonhando desde sempre com a pretensão de escrever peças de teatro com personagens femininas, participando, aos sete anos de idade, no Teatro Lethes, na peça “Lenço Branco”. Começa a colaborar, a partir dos dezanove anos, na imprensa algarvia e alentejana, caso dos jornais “O Distrito de Faro”, “Pequeno em Tudo”, “O Almanaque Braz de Alportel”, “O Repórter”, “O Algarve”, “O Alentejo, “A Tarde”, “O Cruzeiro do Sul, etc. O que então escrevia era crónicas literárias, folhetins, poesia, contos, crónicas e artigos, nos quais defendia já uma educação e uma pedagogia feminista contra as superstições e o analfabetismo. Conheceu Cândido Guerreiro, do qual teria um filho, assumindo-se mãe solteira, não aceitando o convite de casamento, na medida em que considerava tal convite apenas para a satisfação social: um casamento, na perspectiva de Maria Veleda, devia basear-se no amor e confiança incondicionais e não no sentimento de compaixão ou de meras convenções sociais; e um filho não justificava um casamento a qualquer preço.





A Professora Natividade Monteiro a proferir a sua conferência



Colocada como professora no Alentejo, em 1905 desloca-se para Lisboa e em 1906 torna-se professora auxiliar no Centro Republicano Afonso Costa. Converte-se aos ideias republicanos e inicia a sua colaboração em jornais como “A Vanguarda”, “ Século”, ou “O Mundo”, conhecendo republicanos como Magalhães Lima, Alexandre Braga, França Borges, entre outros. O que defende nos seus textos é uma educação racional influenciada pela educação nova, uma educação integral, laica, defende a conciliação das artes e da ciência para a formação cívica, assim como igualmente uma educação física. Em 1907, no mesmo centro, realiza cursos nocturnos para complementar a instrução, através de conferências e no Centro Escolar José de Almeida cria cursos à hora da missa, considerando que estes mesmos cursos seriam a igreja cívica para as mulheres, assim como também para os homens, exercerem os seus direitos e deveres cívicos. No Centro Republicano Botto Machado pertenceu à direcção do mesmo centro, tendo sido a primeira mulher a representar tal cargo. Será através de Botto Machado que se tornará uma brilhante oradora. Entre 1906 a 1911 escreve no jornal “A Vanguarda” sobre educação, política, ou de como se fez livre-pensadora, e efectua a propaganda republicana. Em 1907, na homenagem nacional que então se presta a Bernardino Machado, Maria Veleda está presente na comissão de homenagem. Com o regicídio, considerou então Maria Veleda no célebre artigo que esgotou duas edições do jornal “A Vanguarda” que o “Rei provocou o seu próprio desfecho” e, termina, dizendo que “morreu um Rei, antes ele que um homem!” O texto agradou aos republicanos que então lhe prestaram uma homenagem. Em Abril de 1908 pertenceu à Comissão organizadora do I Congresso Nacional do Livre-Pensamento, com a presença de republicanos, socialistas e anarquistas, e, para além das questões sociais, reivindicou o amor-livre. No jornal “República, neste mesmo ano, realizou um plebiscito às mulheres portuguesas, para que estas votassem no republicano que mais defendiam os seus interesses: quem então ganhou foi António José de Almeida, para surpresa de Maria Veleda, já que considerava Bernardino Machado e Magalhães Lima como os republicanos que mais defendiam os interessas das mulheres. Ironia do destino, em plena República, António José de Almeida vetava o voto universal feminino e considerava Maria Veleda como a mais vermelha das feministas, pela sua coerência de pensamento e pela sua visão das realidades sociais. Em 1909, participa na manifestação anti-clerical promovida pela Junta Liberal em Lisboa, estando presentes cerca de 300 mulheres.




Com a implantação da República, as mulheres defendem a renovação do código civil, o divórcio e o direito de voto. Alguns republicanos mostraram-se favoráveis ao voto universal feminino, caso de Tomás da Fonseca, ou Magalhães Lima. Do outro lado da barricada, António José de Almeida. Este grupo considerava que as mulheres eram influenciáveis e poderiam sê-lo pelos eclesiásticos. Surgem duas posições: a de Maria Veleda e a de Ana de Castro Osório: a primeira defendia o voto para todas as mulheres e lutar pela igualdade era lutar contra todas as formas de aristocracia; por seu turno, a segunda defendia o voto restrito, considerando que as mulheres deviam ser educadas para votarem em consciência. Nesta fase, Maria Veleda começa então a delinear novas estratégias para pedir o direito de voto às mulheres, caso da emancipação política ou económica. Faz parte dos Grupo das Treze: este grupo, mais político, combate a superstição e o fanatismo religioso, proclamando Veleda a ciência, já que a “sociedade ideal será aquela em que a mulher levante templos à ciência”. Crítica todos os que se servem da República para satisfazer os seus interesses próprios e discursa contra as incursões monárquicas, defendendo o regime republicano. Escreve e conspira, igualmente, contra a ditadura de Pimenta de Castro. Entre 1915 e 1916 defende a participação de Portugal na I Guerra Mundial e alia-se ao Partido Democrático de Afonso Costa, sendo critica pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, e afasta-se da mesma Liga. Fundou, em 1915, a Associação Feminina de Propaganda Democrática, com uma actuação cívica e política para passar à prática os direitos da mulher.




O jornal "Vanguarda" que esgotou duas edições com o artigo de Maria Veleda "A Propósito"


A subscrição de homenagem a Maria Veleda

Com a noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921, Maria Veleda desilude-se com a República. Passa a escrever em jornais e revistas, como “O Século”, “A Pátria”, fundando “A Asa, “O Futuro”, “A Vanguarda Espírita, com comentários políticos e sobre educação, mantendo uma atitude crítica de maior distanciamento, não sem um certo humor. No final, a conferencista ofereceu ao Museu Bernardino Machado o seu livro “Maria Veleda: feminista republicana, escritora e conferencista”. Este livro contém as “Memórias de Maria Veleda”, publicadas no jornal “República “em 1950.





Maria Veleda na Comissão de Homenagem Nacional a Bernardino Machado, em 1907



















sexta-feira, 17 de junho de 2011

opinião pública 20 anos!




para o dr. sá da costa.




o jornal de vila nova de famalicão "opinião pública" está prestes a comemorar os seus vinte anos e com o seu número 1000! apareceu, precisamente, no dia 17 de julho de 1991 com o seu número 0 e com o custo de 75$00. o director, então, era luís paulo rodrigues e o sub-director alexandrino cosme. deu então destaque, na sua primeira página, a uma entrevista de fernando ribeiro da silva e tinha o título "sem maioria absoluta psd deve governar sozinho". surge uma fotografia que realça mário soares, então presidente da república, e que tinha a legenda: "o presidente da república já viu um pouco do pdm de vila nova de famalicão". esta notícia intitulava-se "santo tirso pronto. famalicão em setembro. planos de milhões..." a questão desportiva na primeira página era se o jogador tanta faria parte do plantel do f. c. do porto e santos oliveira confessava-se nos seguintes termos: "o poder mente e corrompe". o número zero foca igualmente na sua primeira página os 150 anos de nascimento do historiador alberto sampaio, cujas comemorações dividiam então guimarães e, finalmente, anunciava-se que riba d`ave iria ter em breve a estação de tratamento de resíduos sólidos. assim se intitulava esta notícia: "riba d`ave lixada". aqui reproduzo o meu primeiro texto no jornal "opinião pública" com o título "vila nova nas «bocas» de camilo". o título não era este. o luís paulo é que lá dizia que este título chamava mais a atenção. saberes jornalísticos! tinha um outro mais discreto: "vila nova nos dizeres de camilo". apareceu inicialmente num folheto de quatro páginas (editado pelo departamento da cultura da câmara municipal de famalicão) no âmbito das comemorações do centenário da morte de camilo. este folheto chama-se "passeio ao minho de camilo", o qual se realizou em 30 de junho de 1991, com o acompanhamento do saudoso dr. manuel simões. o meu texto apareceu ao lado do seu e que se chamava "camilo famalicense ilustre". não poderia ter melhor honra. a acompanhar o meu texto, alexandrino cosme fazia então uma reportagem fotográfica pela casa-museu camilo castelo branco, legendando as imagens. novas surpresas vão aparecer.







































quarta-feira, 15 de junho de 2011

josé francisco da cruz trovisqueira (1824-1898)




SILVA, António Joaquim Pinto da - Vereações de Vila Nova de Famalicão. Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal, Quasi Edições, 2005. (Biblioteca Oito Séculos; Dir. Artur Sá da Costa).



VILA NOVA DE FAMALICÃO. Câmara Municipal. Comissão Municipal de Toponímia.

Roteiro Toponímico da Cidade de Vila Nova de Famalicão. V. N. de Famalicão: Câmara Municipal, 1990.




ALVES, Jorge Fernandes

Fiar e Tecer: uma perspectiva histórica da indústria têxtil a partir do Vale do Ave. V. N, de Famalicão: Câmara Municipal, Museu da Indústria Têxtil da Bacia do Ave, 1999.





VILA NOVA DE FAMALICÃO. Câmara Municipal. Museu Bernardino Machado

Barão da Trovisqueira: reencontro. Corrd. Artur Sá da Costa. V. N. de Famalicão: Câmara Municipal, Museu Bernardino Machado, 2001.

Contém textos de Artur Sá da Costa, J. P. de Castro e Mello Trovisqueira e Jorge Fernandes Alves



Amadeu Gonçalves, Artur Sá da Costa - "Da História como memória e simbolismo funerário". In Boletim Cultural. V. N. de Famalicão, 3.ª série, n.º 3/4 (2007-2008), pp. 259-270.


"Vasco de Carvalho e o Bartão de Trovisqueira - correspondência com e do neto Leopoldo Trovisqueira". In Boletim Cultural. V. N. de Famalicão, 3.ª série, n.º 3/4 (2007-2008), pp. 271-312.










Palacete da Trovisqueira - Famalicão




o dr. artur sá da costa (responsável pela rede museológica de famalicão) numa reportagem da televisão porto-canal. apresenta o palacete barão de trovisqueira, hoje museu bernardino machado, em vila nova de famalicão.

terça-feira, 14 de junho de 2011

mitba iii conferências da primavera



o museu da indústria têxtil da bacia do ave, sediado em vila nova de famalicão, mais propriamente na freguesia de calendário, vai organizar as iii conferências da primavera, que contará na abertura com a presença do presidente da câmara municipal de vila nova de famalicão, arq. armindo costa. do programa e das actividades das mesmas iii conferências da primavera, que decorrerá no próximo dia 17 de junho do corrente ano, consta a apresentação do projecto "museu têxtil do futuro", a cargo do vereador da cultura e vice-presidente da autarquia famalicense dr. paulo cunha e, entre outras, antes da sessão de encerramento, o prof. josé manuel lopes cordeiro, coordenador-científico do museu da indústria têxtil da bacia do ave, proferirá a conferência "a energia hidráulica no processo de industrialização: o caso da bacia do ave".











segunda-feira, 13 de junho de 2011

famalicão 1940



o ano de 1940 é marcado pelas comemorações centenárias, mais propriamente os 800 anos, da fundação de portugal, às quais famalicão se aliou com um programa próprio. aliás, em junho, receberia a visita do então presidente da república general carmona. a preparação da sua vinda foi então realizada por alexandrino costa, secretário da união nacional, e pelo presidente da câmara da época, rodolfo aguiar. de salientar, que as respectivas festas centenárias da fundação da nacionalidade, seriam terminadas em famalicão. Camilo, como sempre, esteve em foco, nomeadamente em junho, e durante todo o ano, a propósito da reabilitação do museu camiliano. josé casimiro da silva escreveria um extenso texto teórico à volta do pensamento literário de camilo, baseando-se em ramalho ortigão, oliveira martins, trindade coelho, alberto pimentel, entre outros, relacionando a obra literária do habitante de seide com alguns escritores, nomeadamente dickens. quem escreve outro artigo é oliveira bente com o título "camilo e eça: anotações camilianas à relíquia". o ano de 1940 traz à luz o inestimável documentário sobre famalicão de manuel de oliveira, o qual é apresentado pela primeira vez no teatro s. joão, no porto. num ano em que se comemorava igualmente os trinta anos da implantação da república em portugal, a 6 de outubro o editorial, possivelmente de autoria de josé casimiro da silva, salienta a nova república nos seguintes termos: "as "várias formas de governo, desde a democrática à presidencial e desde a presidencial à corporativa." estamos na época, portanto, de um república corporativa. de salientar ainda, já no final do ano, a homenagem em seide ao p. sena freita, pela amizade que manteve com camilo. apresento um filme baseado no jornal "estrela do minho" deste ano de 1940.





  • António da Silva Rego - "O Padroado Português do Oriente".








  • Nuno Simões - "Portugueses no Mundo".



  • Martins Lima - "Famalicão nas obras de Júlio Dinis".



  • Sporting Clube de Famalicão - "Festas do S. Miguel: programa geral e indicações úteis".



  • É colocada na Casa de Camilo, em S. Miguel de Seide, uma lápide em homenagem ao P. Sena Freitas, no ano do centenário do seu nascimento, pela sua amizade com Camilo.



  • A publicação "Braga nas Comemorações Centenárias" contém vária informação sobre Vila Nova de Famalicão e o seu respectivo concelho, principalmente sobre a agricultura e os seus agricultores e as respectivas quintas. A este propósito, é de salientar o artigo de J. A. Pires de Lima com o título "V. N. de Famalicão: confronto entre a antiga e a moderna agricultura".




  • É apresentado no teatro S. João, no Porto, o documentário cinematográfico "Famalicão", realizado por Manuel de Oliveira.


  • É apresentado o Programa das Festas Centenárias do Concelho de V. N. de Famalicão, da fundação da nacionalidade portuguesa, que se realizaram então em Guimarães.



  • A convite da Comissão Municipal da Obra das Mães pela Educação Nacional, Laura Cunha Matos realiza uma conferência no Salão Olímpia.



  • Armando Bacelar, com o pseudónimo Eugénio Bastos Freire, inicia a sua colaboração na revista portuense "Pensamento".




  • Falecimento de Henrique Garcia Pereira Martins, o 1.º bibliotecário da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco.




sábado, 11 de junho de 2011

exposição paços do concelho de vila nova de famalicão percursos 1835-1961





A nossa maneira de ser e de estar no mundo deve-se àquilo que herdámos dum passado, o qual se encontra configurado no presente para a construção do futuro. Encontramo-nos formando parte de uma História e, em geral, isto é afirmar que somos os suportes de uma tradição; e uma tradição é uma discussão historicamente desenvolvida e socialmente incorporada. Tal concepção contextualizadora da identidade humana numa comunidade e na tradição são condições que deviam fascinar qualquer ser humano racional para a construção de uma comunidade ética, na medida em que ao termos uma base plena de significação, uma essência de encantamento, acabamos por tentar pretender construir algo para a comunidade à qual pertencemos. Ora, esta essência contextualizadora transforma-se em duas vias: a afectiva e a efectiva. A afectiva diz respeito ao facto natural de pertencermos à comunidade onde nascemos; por seu turno, a efectiva é o tópico em que a comunidade encarna em nós um ideal activo para a construção da mesma direcção ao futuro. Vila Nova de Famalicão está de parabéns.






a mostra da exposição intitula-se "percursos 1835-1961" e aborda temas como a fundação do concelho de vila nova de famalicão (1835), a construção do primeiro edifício da autoria de frederico pimentel (1872-1882), o incêndio dos antigos paços do concelho (1952), o projecto de januário godinho e, finalmente, a inauguração do edifício em 1961.