segunda-feira, 29 de agosto de 2011

armando bacelar e a biblioteca municipal

na semana passada andei pela torre do tombo a consultar os processos-crime de armando bacelar perante a pide/dgs. ainda consegui consultar e analisar o processo com o n.º 87/47, o qual corresponde à sua primeira prisão: detido em 11 de abril de 1947, foi solto em 18 de junho, segundo termo de liberdade condicional. foi acusado, então, de actividades subversivas contra a segurança do estado, e, segundo a informação então prestada pelo investigador, "como elemento de relevo e dirigente da organização secreta subversiva "partido comunista português", destacando-se especialmente essas actividades - que naquela organização secreta são designadas por "trabalhos legais" - nas comissões do chamado "movimento de unidade democrática", que orienta e dirige, como representante da citada organização comunista". este processo é composto por trinta e três documentos, com dados curiosos para uma biografia exaustiva política de armando bacelar. ainda consultei o seu cadastro biográfico elaborado pela pide em 1 de abril de 1961 e, não sem surpresa, o processo de 5 de fevereiro de 1945, o qual diz respeito à candidatura de bacelar para bibliotecário. este processo consta de uma folha, e a pide solicitava ao então presidente da câmara municipal de vila nova de famalicão, álvaro folhadela marques, informação sobre o candidato, o qual diz o seguinte: "o indivíduo a que se refere o presente boletim é geralmente considerado como partidário de ideias avançadas, tanto políticas, económicas e religiosas." tem a data de 12 de fevereiro de 1945. contém outra informação cujo teor é o seguinte: "é elemento desafecto ao estado novo, ofício confidencial n.º 1950/945", com a data de 12 de junho de 1945, e a manuscrito podemos ler: "oposição". com tais informações, claro, o lugar de bibliotecário ficou fora de hipótese, apesar de ter sido admitido a concurso "para provimento do lugar de bibliotecário da biblioteca nacional de vila nova de famalicão". este concurso, na época, causou alguma polémica, antes e depois da nomeação da pessoa escolhida. a seu tempo faremos aqui um pouco da sua história.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

famalicão 1944

o ano de 1944 é marcado, no plano nacional e internacional, pelo falecimento de bernardino machado. deputado pelo partido regenerador (1882), par do reino (1890) e ministro das obras públicas, comércio e indústria (1893) no governo de hintze ribeiro, no qual, ele e augusto fuschini eram considerados os vermelhos, maçónico, professor em coimbra e introdutor da antropologia em portugal, desiludido com a monarquia, o pedagogo eminente português que representava portugal nos mais variados congressos pedagógicos europeus, nomeadamente madrid, paris ou londres, não participando neste último, adere ao partido republicano em 1903. com um pensamento político coerente contra as ditaduras e a favor das liberdades de opinião, assim como de todas as formas de sociabilidade pública, bernardino machado veio a ser com a implantação da república em portugal ministro dos negócios estrangeiros e o seu porta-voz, embaixador de portugal no rio de janeiro (seria com ele que as legações do rio e em lisboa seriam transformadas em embaixadas), primeiro-ministro em 1914 e 1921, presidente da república entre 1915 a 1917 e em 1925-1926, duas vezes exilado porque deposto por dois golpes militares, o primeiro viria a dar origem ao sidonismo, esses espadachins zoomórficos, na sua grata expressão, e o segundo ao estado novo, bernardino machado foi um lutador incansável a favor da liberdade e da plena cidadania. fica o seu pensamento e a sua obra para serem estudadas, as quais estão a cargo do museu bernardino machado (fruto de várias doações oriundas de familiares, nomeadamente, por exemplo, de dois netos, caso de júlio machado vaz ou de manuel sá marques), em vila nova de famalicão, e da câmara municipal da mesma localidade. para além da exposição permanente e das temporárias (estas temáticas), das actividades pedagógicas, dos encontros anuais de outono e dos ciclos de conferências, têm sido publicadas as suas obras, nomeadamente a ciência, a pedagogia (III tomos) e a política (I Tomo), estando a caminho o II Tomo, compreendendo os anos de 1908 a 1910. no plano da comunidade famalicense, o destaque vai para vasco de carvalho, que começa a publicar os seus aspectos de vila nova, cujo primeiro livro é dedicado ao "hospital s. joão de deus". a receita da venda deste livro, que veio a substituir o então "cortejo das oferendas", foi para o mesmo hospital, com a quantia final de 30$000. por seu turno, agostinho da silva continuava a imprimir os seus livros na tipografia minerva, tal como é o caso do título "conversação com diotima", a "parábola da mulher de loth" ou "apólogo de pródigo de ceos", entre outros. no campo da imprensa, o jornal famalicense "estrela do minho" comemora os seus cinquenta anos de existência, sendo, precisamente a década de quarenta e a de cinquenta um dos períodos mais ricos no panorama cultural e literário. neste caso, no ano em foco, publica mais um suplemento literário, após o termo do"para as raparigas", e que se chama "esta página", publicando, igualmente, a coluna denominada "projecções", de oliveira bente, de fortes incidências neo-realistas. dedica um número especial a eça de queirós, com uma colaboração invejável, caso de mário sacramento, castelo branco chaves, victor de sá, entre outros. finalmente, o "diário popular" dedica uma página a famalicão com o título "uma das vilas mais progressivas do minho".





Álvaro de Castelões - "Amorosa Canção"

Alexandrino Costa - "Salazar «de frente»


Alexandrino Costa - "Cardeal Cerejeira"


Júlio Brandão - "Um Escultor Primacial: Pinto do Couto"


José Casimiro da Silva - "A União das Províncias através da sua Imprensa"


Vasco César de Carvalho - "Aspectos de Vila Nova. O Hospital de S. João de Deus".




sexta-feira, 19 de agosto de 2011

famalicão 1943




o ano de 1943 tem o seu epicentro em 19 de junho, dia em que é inaugurado o hotel garantia. para além do amplo destaque que quer o "estrela do minho", quer o "notícias de famalicão" então deram ao acontecimento, "o comércio do porto" dá destaque ao mesmo feito da comunidade famalicense com o título "obra de luxo e modernismo e de arrojada iniciativa". duas personalidades então se destacam no feito: amadeu mesquita e joaquim josé de carvalho. o mesmo jornal, em setembro, dedica duas páginas a vila nova de famalicão com o título "vila nova de famalicão. Risonho e Progressivo Centro Minhoto. O seu valor comercial, industrial, turístico e desportivo". por seu turno, a revista de lisboa "viagem" dá também destaque não só a famalicão, como igualmente a riba d`ave. o mesmo acontece no "anuário comercial do minho, sendo então o seu director j. fernando gaspar, que publica um artigo sem indicação de autor sobre a vila, hoje cidade, famalicense. mas o ano de 1943 ainda reserva a surpresa para os famalicenses relativamente à ponte da lagoncinha, a qual é considerada monumento nacional pelo decreto n.º 32973 de 18 de agosto. o então presidente da junta da freguesia de calendário, vasco de carvalho publica as "taxas e o regulamento do cemitério paroquial" da mesma freguesia de famalicão. tem uma outra curiosidade este ano de 1943: agostinho da silva continua a publicar os seus livros na tipografia minerva, caso de "moisés e outras páginas bíblicas", "a vida e a arte de goya", " a vida e a arte de rembrandt", "doutrina cristã" e traduz de francis bacon os "ensaios", como realiza uma antologia de joaquim costa com o título "ideário espanhol". esta actividade editorial de agostinho da silva por terras famalicenses ainda vai durar até 1945. no mês de julho a comunidade famalicense presta homenagem a monsenhor torres carneiro.



  • Fernando Carneiro - "Amar é Tempo Perdido"


  • D. Manuel Gonçalvesa Cerejeira - "Vinte Anos de Coimbra"


  • Júlio Brandão - "Recordações Dum Velho Poeta"


  • ABel Folhadela de Macedo - "Trabalhos Manuais"


  • António da Silva Rego - "Les Missions Portugaises"



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

famalicão 1942





o ano de 1942 tem a continuidade das obras de agostinho da silva, as quais são impressas na tipografia minerva. obras como "a primeira volta ao mundo", "o cristianismo", a "vida de franklim", a "vida de miguel ângelo", a "vida de zola", "goethe", "a reforma: iniciação", "o cristianismo: iniciação", "o islamismo: iniciação", "beehoven", "vida e arte de cellini", "o transformismo", "a vida de roberto owen", "alexandre herculano", "teoria do amor" (antologia e tradução) e os pensamentos de marco aurélio, foram impressos na famosa tipografia famalicense. por seu turno, o neo-realismo continua a ser tratado nas páginas do jornal "estrela do minho": é o caso do artigo de célio augusto intitulado "poesia neo-realista". neste âmbito, o livro "poesias do minho", de joão rubem, isto é, pseudónimo de joão dinis cupertino de miranda, é um dos sinais do seu autor na incursão neo-realista. o livro de maria clementina de sousa, e que contém estudossobre o folcore de riba d`ave, da música em landim, assim como umpasseio à mesma freguesia do concelho de vila nova de famalicão, tem a sua génese em várias conferênciasque a autora, pianista, então proferiu no porto. apresentono filme imagemda capa da edição realizada em 1998 do livro de antónio da silva rego e que se chama "dialecto português de malaca". para além deste título, contém "a comunidade luso-malaia de malaca e singapura" e a "cultura portuguesa na malaia e singapura". no final do filme, apresenta-se uma fotografia do então hotel vilanovense, demolido neste ano.



Vasco de Carvalho - "Causa Invulgar"



Vasco de Carvalho - Pedras Falsas"



Alexandrino Costa - "Como eu os vi: figuras do passado e do presente"



António da Silva Rego - "O Dialecto Português de Malaca"



João Dinis Cupertino de Miranda /Pseudónimo João Rubem - "Poemas do Minho"



Francisco Torrinha - "Novo Dicionário da Língua Portuguesa"



Francisco Torrinha - "Elementos de Gramática Portuguesa"



Abel Folhadela de Macedo - "Elementos de Álgebra"



Maria Clementina Pires de Lima Tavares de Sousa - "Folclore Musical"



O jornal famalicense "Estrela do Minho" publica o suplemento literário "Para as Raparigas"



O "Anuário Comercial do Minho", publicado no Porto, publica um artigo, sem indicação de autor, sobre Vila Nova de Famalicão



Em 1 de Junho dá-se iníco à demolição do Hotel Vilanovense



Artur Cupertino de Miranda transforma a sua Casa Bancária no Banco Português do Atlântico



É fundado o Grémio do Comércio de Vila Nova de Famalicão



É projectada a construção do Hotel Garantia



Espectáculo de beneficiência para a Comissão Instaladora da Sopa dos Pobres, no Salão Olímpia, com a peça "Surpresas e Alegrias", de Alexandrino Costa



Realiza-se no Salão Olímpia uma conferência sobre agricultura, promovida pelo Grémio da Lavoura de Famalicão, tendo sido convidado para realizar a palestra Augusto Ruella.





segunda-feira, 15 de agosto de 2011

famalicão 1941 II






  • Fernando Carneiro - "Sombras Poéticas", com prefácio de Egito Gonçalves


  • Jerónimo de Castro - "Jesus Passou um dia por aqui"


  • Alexandrino Costa - "Como eu os vi: esboços das figuras nacionais de Salazar, ilustre Presidente do Governo de Portugal, e do Eminente Cardeal Cerejeira, Cardeal Patriarca de Lisboa"


  • Rebelo Mesquita - "Memórias do Detective X"


  • Guimarães promove o 1.º Centenário de Nascimento a Alberto Sampaio.


  • Alberto Sampaio - "Correspondência Inédita para Joaquim de Araújo, Martins Sarmento, Oliveira Martins, Abade de Tagilde e Luís de Magalhães


  • Alberto Sampaio - "Correspondência Inédita para Rocha Peixoto"


  • Comemorações Centenárias da elevação a Vila pela Rainha D. Maria II em 3 de Agosto.


  • É apresentado no Salão Olímpia o documentário cinematográfico sobre V. N. de Famalicão, de Manuel de Oliveira, com fotografia de António Mendes, música de Jaime Silva Filho e com comentários de Vasco Santana.


  • É publicado o primeiro relatório da Conferência S. Vicente de Paulo, sob a direcção de Vasco de Carvalho. Estes relatórios vão ser publicados até 1948.




famalicão 1941 I



A revista de Lisboa "Renascença", de 15 de Janeiro, publica o artigo "Um Passeio a Landim: história do auto popular de S. João Baptista", por Maria Clementina Pires de Lima Tavares de Sousa








O número bimestral de Janeiro e Fevereiro da revista "Turismo" é dedicado ao Minho. Contém "O Minho Visto por Ilustres Figuras Intelectuais", nomeadamente com textos de Bernardino Machado, Antero de Figueiredo, entre outros. De Nuno Simões contém o texto "O Movimento DEmográfico de Entre-Douro-e-Minho" e o artigo sem indicação autoral "Famalicão: uma das vilas mais alegres e progressivas do Minho".








  • Grémio da Lavoura - "Relatório, Balanço e Contas da Gerência".


  • O Clube de Caçadores realiza o "Torneio de Tiro aos Pombos para Disputa da Taça Indústria".


  • Polémica suave no jornal famalicense "Estrela do Minho" sobre o Neo-Realismo.


  • Em Outubro, é inaugurado o Colégio Camilo Castelo Branco. Foi seu director e proprietário Abel Folhadela de Macedo.


  • V. N. de Famalicão passa à categoria de 1.ª Classe, como Concelho.


  • Passagem por Famalicão de Washington Luís, antigo Presidente da República do Brasil.


  • Agostinho da Silva visita a Tipografia Minerva para observar o andamento das suas obras, conforme se noticia na imprensa na época, noemadamente no "Estrela do Minho". Livros como "Mozart", "O Gás", "A Escultura Grega", "Vida de Robert Owen", "Vida e Arte de Ticiano", "Estoicismo", a tradução dos "Diálogos Filosóficos" de Voltaire, entre tantos outros, seriam impressos na respectiva tipografia famalicense.
















segunda-feira, 8 de agosto de 2011

camilo e seide i





I.

"Eu estou morando às abas da Serra de Córdova, entre um souto e uma carvalheira. Sei todos os dias o preço do milho e do feijão fradinho. Tenho horas muito tristes, e outras muito resignadas. A felicidade é que eu não achei aqui, nem em parte alguma." (Carta a António Feliciano de Castilho, 6 Set. 1864).


II.

"Estou agora a ver se junto umas migalhas para comprar um cardenho entre dois carvalhos aí para o coração do Minho, e fechar-me lá, resguardado dos lobos e dos homens e das mulheres, com duas canastras de livros." (Carta a António Feliciano de Castilho, 16 Nov. 1865).


III.

"Eu penso ter já dito a V. Ex.ª que cismo em me ir embuscar numa floresta do Minho, ... Tinha 2 contos de réis de livros, economias de vinte anos de trabalho: começo a vendê-los para comprar uma horta. Enquanto uns fazem luz, eu vou fazer couve galega e repolhos das crónicas dos frades." (Carta a António Feliciano de Castilho, 31 Jan. 1866).


IV.

"Já cá estou na aldeia com as crianças e os passarinhos. Não sou o proprietário da casa e da carvalheira, que me enverdece o arredor do quintal; mas sinto a satisfação de não ser proprietário de coisa mínima, aqui donde olhos para coisas deste mundo, e me parecem todas pequeníssimas... / Sorriem-me dias e noites de muito dormir. Tenho um cavalo magro no intento de experimentar se a natureza, desajudada de pasto, o engorda. Não terei que me admirar se isto acontecer; por que maior milagre foi o das éguas lusitanas que concebiam dos ventos, exemplo que porventura devia servir para salvar a reputação dalgumas donzelas suspeitas de bons tempos de Viriato, é Plínio que refere o caso. / Aqui ninguém me pergunta se o Fontes dará cabo das Inscrições, nem se o João Crisóstomo voltará ao ministério, a provar que se pode com aquele sobrenome ter a boca cheia de guano político. Isto é que é estupidez santa, meu querido amigo! Quando V. Ex.ª quiser fazer-se por oito dias um homem digno deste país venha a Vila Nova de Famalicão, ou diga-me que vá ao Porto para lhe ensinar o caminho desta mata." (Carta a António Feliciano de Castilho, 15 Maio 1866).


Camilo Castelo Branco - Correspondência de Camilo Castelo Branco com António Feliciano de Castilho - I. recolha, pref. e comentários Alexandre Cabral. Lisboa: Livros Horizonte, 1985. (Obras Alexandre Cabral; 3)


Do projecto literário em curso

"Breviário Minhoto Camiliano"


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

museu bernardino machado e casa-museu camilo



para o dr. manuel sá marques e esposa, assim como para os seus amigos de lisboa, que hoje vieram a vila nova de famalicão visitar o museu bernardino machado, a casa-museu de camilo e o centro de estudos camilianos. com um abraço fraternal de amizade.


camilo e o relógio




para o dr. manuel sá marques e sua esposa, assim como os seus amigos, de lisboa, que vieram passar uns dias ao norte e não se esqueceram de visitar o museu bernardino machado, a casa-museu de camilo e o centro de estudos camilianos. com um abraço de fraternal amizade.










"Havia na botica um relógio de parede, nacional, datado de 1781, feito de grandes toros de carvalho e muita ferraria. Os pesos, quando subiam, rangiam o estridor de um picar de amarras das velhas naus. Dava-se-lhe corda como quem tira um balde de cisterna. Por debaixo da triplicada cornija do mostrador havia uma medalha com uma dama cor de laranja, vestida de vermelhão, decotada, com uma romeira e uma pescoceira, crassa e grossa de vaca barrosã, penteada à Pompadour, com uma réstia de pedra brancas a enastrar-lhe as tranças. Cada olho era maior que a boca, de um vermelho de ginja. Ela tinha a mão esquerda escorrida no regaço, com os dedos engelhados e aduncos como um pé de perua morta; o braço direito estava no ar, hirto, com um ramalho de flores que parecia uma vassoura de hidrângeas."



Camilo, Eusébio Macário











quarta-feira, 3 de agosto de 2011

josé de azevedo e menezes (1849-1938)




Figura grada da comunidade famalicense, amigo pessoal e um dos mais íntimos de V. N. de Famalicão de Bernardino Machado, assim como de Camilo, é filho de Manuel Carlos Cardoso de Meneses Barreto, da Casa de Portela, Guimarães, e de Teresa Maria Azevedo de Barros e Faria, da Casa do Vinhal, de Vila Nova de Famalicão. De nome completo José de Azevedo e Menezes Cardoso Barreto, por sucessão, herdou a Casa do Vinhal, o Solar dos Pinheiros, de Barcelos, e o Morgado de Pouve, situado na freguesia de S. Paio de Ceide, de Vila Nova de Famalicão. Foi Moço Fidalgo com exercício no Paço pelo alvará de 12 de Março de 1870 e Comendador da Ordem Pontifícia de S. Gregório Magno, pelo Breve Apostólico de 20 de Abril de 1904.








Ocupou alguns cargos de destaque em V. N. de Famalicão, dos quais se salienta o de Presidente da Câmara Municipal (1896-1898) e Presidente da Comissão de Homenagem Póstuma a Camilo Castelo Branco, chegando a criar a Casa-Museu de Camilo, tendo sido o seu primeiro director (1921-1924) por nomeação da Comissão Executiva da Câmara em sessão de 22 de Agosto de 1921. Neste âmbito, publicou "Camilo Homenageado" (1920), sendo o relatório da Comissão Promotora da Homenagem Póstuma. Publicou, igualmente, como director da Casa-Museu de Camilo, o "Relatório do Museu-Camilo" (1924). O livro "Camilo Homenageado: o escritor da graça e da beleza" recebeu as críticas mais elogiosas, caso de Júlio Brandão. Ainda à volta de Camilo, proferiu no Instituto Histórico do Minho, de Viana do Castelo, a conferência com o título "Retrato Grafológico de Camilo", em 1920. O "Estrela do Minho", de V. N. de Famalicão, em 30 de Maio, reproduzia, do jornal portuense "O Primeiro de Janeiro", nos seguintes termos a notícia da conferência: "Apresentou o retrato grafológico do glorioso escritor, explicando-o e demonstrando os assertos dos especialistas franceses com episódios da vida do eminente romancista e passagem de cartas do Mestre, relacionando-as com outras de literatos e políticos, que lhe dirigiam para Seide." Para além disso, "deu conta dos trabalhos da benemérita comissão da sua presidência para a organização do Museu Camilo, anunciando a abertura deste no próximo Setembro", assim como também "apresentou o livro que, por aquela ocasião, vai publicar, lendo algumas das suas páginas".





Em termos cívicos e sociais, foi o segundo provedor do Hospital de S. João de Deus (1880-1881), Presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo e Director do Instituto Anti-Tuberculoso «Silva Maia». Os relatórios que então escreveu destas últimas instituições são valiosos, com dados historiográficos únicos, nomeadamente sobre a história do pão a Santo António. De realçar igualmente o projecto turístico para o Monte do Facho, cujo movimento cívico e social teve início em Setembro de 1923, com personalidades que, ao lado de José de Azevedo e Menezes, sendo então o Presidente da Comissão, tais como Alberto Veloso de Araújo, Monsenhor Torres Carneiro, o Padre Zeferino José Sampaio e Duarte Aguiar, pretenderam promover tal projecto não só a nível local, como também a nível nacional. Aliás, a brochura que Alberto Veloso de Araújo publicou em 1923 com o título "Os Melhoramentos do Monte-do-Facho em Famalicão: breves considerações acerca do turismo em Portugal e dos projectos daqueles melhoramentos", terá prefácio de José de Azevedo e Menezes.





Como publicista, a sua área de estudos situa-se principalmente no campo da genealogia, chegando a colaborar no "Arquivo de Ex- Libris Portugueses", fundado e dirigido por Joaquim de Araújo e publicado em Génova. Neste âmbito publicou "Ninharias" (1911). Homem de cultura, publicou em 1897 "Bibliografia Anteriana". Tem uma enorme colaboração em periódicos nacionais e famalicenses. tais como "O Direito", "A Palavra" (tendo sido um dos fundadores deste jornal portuense), "Novidades", "O Primeiro de Janeiro", "Correspondência do Norte", "Progresso Católico", "Estrela Povense", "Ocidente", Escólio", "Crença e Letras", "União Nacional", Comércio do Minho", "Conimbricense", "Semanário dos Filhos de Maria", assim como em "Lusitânia", sendo o seu editor Manuel Gonçalves Cerejeira, o futuro Cardeal do Estado Novo; e, no caso famalicense, colaborou em "A Alvorada", "Nova Alvorada", "Regenerador", "O Famelicense" e no "Estrela do Minho". Falta, neste momento, um inventário da sua colaboração para um estudo ainda mais exaustivo dos seus ideais e da sua mentalidade religiosa perante a época em que viveu. Neste âmbito, participou activamente em congressos católicos, desempenhando cargos em várias comissões e organizações de carácter público e social, impondo-se como orador.





Foi sócio correspondente da Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses, do Instituto de Coimbra, da Academia das Ciências de Portugal, membro da Sociedade Académica de História Internacional (Paris), sócio efectivo do Instituto Histórico do Minho, sócio Ordinário da Sociedade de Geografia de Lisboa, entre outras instituições.



BIBLIOGRAFIA



Ana Maria Bacelar de Azevedo e Menezes - "José de Azevedo e Menezes", Gentes da Terra, V. N. de Famalicão, 2006.


Vasco César de Carvalho - Aspectos de Vila Nova: a justiça, V. N. de Famalicão, 1947.





José de Azevedo e Menezes

Bibliografia Activa

Uma Aproximação

Imprensa



ALMANAQUE DO MINHO


"António Pereira da Cunha e Castro". In Almanaque do Minho para 1894. V. N. de Famalicão (1893), pp. 191-193.



A ALVORADA


"As Costelas do Sr. Visconde de Correia Botelho". In A Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 5 (1 Out. 1885), pp. 36-38.


"Bibliografia. "Encómio poético da cama", de Garrido e "O Atelier". In A Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 9 (Fev. 1887), pp. 71-72.


"Uma das glórias literárias do Sr. Visconde de Correia Botelho é, sem dúvida, a de iniciador, entre nós, da escola realista..." In A Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 10 (10 Mar. 1887), p. 3.


ESTRELA DO MINHO


"A Tuna da Associação de Classe dos Empregados de Comércio de Famalicão". In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 17, n.º 946 (19 Out. 1920), p. 2.



NOVA ALVORADA


"Álvaro de Castelões". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 1 (1 Mar. 1891), pp. 2-3.


"Um bombeiro benemérito do século XVI". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 3 (1 Maio 1891), p. 3.


"Vi-o pela primeira vez, há vinte e dois anos, no Porto, em casa do tio Azevedo, que lhe era muito afeiçoado.". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 4 (1 Jun. 1891), p. 18.


"Bibliografia. "Biblioteca Selecta Recreativa: colecção de romances dos melhores autores estrangeiros", oivremente traduzidos por A. de Lima (Coimbra, Livraria Moderna)". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 4 (1 Jul. 1891), p. 35.


"O Cancioneiro de Leão XIII". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º5 (1 Ago. 1891), pp. 39-40.


"Ninharias de Madrid à fronteira francesa". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 6 (1 Set. 1891), pp. 48-49.


"Ninharias". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 7 (1 Out. 1891), p. 57.


"Os linhagistas fazem nesão honrosa da família de Antero de Quental...". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 8 (1 Nov. 1891), pp. 72-73.


"Alto lá com o artigo". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 3 (1 Maio 1892), pp. 122-123.


"Ninharias". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 8 (12 Out. 1892), pp. 17-18.


"Gil Vicente", pelo Sr. Visconde de Sanches Faria". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 4, n.º 9 (1 Dez. 1894), p. 177.


"Bibliografia. Visconde de Sanches de Baena, "Bernardim Ribeiro". In Nova Alvorada. V. N. de Famalicão, Ano 5, n.º 8 (Nov. 1895), p. 64.


A PAZ


"Em Justa Defesa". In A Paz. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 17 (16 Ago. 1919), p. 1.


"Cartas Inéditas de Camilo Castelo Branco a José de Azevedo e Menezes". In A Paz. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 101 (2 Abr. 1921), p. 1; a Ano 2, n.º 105 (30 Abr. 1921), p. 1.


O REGENERADOR


"Festas Jubilares em Famalicão". In O Regenerador. V. N. de Famalicão, Ano 6, n.º 258 (8 Out. 1904), p. 1.


"A Igreja de S. Pedro de Rates". In O Regenerador. V. N. de Famalicão, Ano 6, n.º 292 (3 Jun. 1905), p. 1.




Amadeu Gonçalves

Do projecto literário "Dicionário de Literatura Famalicense: séculos XVIII a XX"

















domingo, 31 de julho de 2011

júlio dinis e famalicão

Júlio Dinis refere-se a Vila Nova de Famalicão no conto "A Justiça de Sua Magestade", aproveitando a visita da Rainha D. Maria II em 1852. Em 6 de Julho de 1840, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão envia uma petição a D. Maria II para consagrar como Famalicão "Vila", o que tal veio a suceder pela Carta de Lei de 22 de Junho de 1841, sendo presidente do Governo e Ministro do Reino Joaquim António Aguiar. Em 1941 Famalicão realizou as comemorações do Centenário da Elevação a "Vila" em 3 de Agosto e, em 1968, foi inaugurada a estátua de D. Maria II do escultor Barata Feio, encontrando-se hoje na Praça D. Maria II.
















sexta-feira, 29 de julho de 2011

republicanos famalicenses 1913





"Partido Republicano. O Congresso de Aveiro e os Congressista já Inscritos". In O Mundo, Lisboa, Ano 13, n.º 4516 (5 Abr. 1913), pp. 1-2.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

manuel dias gonçalves cerejeira (1873-1899)




Quando em Braga frequentava o Liceu, começo a escrever nos jornais académicos "A Pátria" e "Canto Académico". Promoveu na mesma cidade uma organização estudantil, na qual se realizavam palestras literárias, fundando "A Alma Nova", de combate anti-monárquico e anti-jesuítico.




Em Coimbra, foi um dos fundadores do Cenáculo, revista crítica e literária, sendo também um dos redactores do "Portugal". Foi um dos membros da comissão académica que promoveu a homenagem a José Falcão, da qual saiu a publicação popular "Cartilha do Povo", publicada em Vila Nova de Famalicão mediante uma subscrição pública. As revistas da época anunciavam que Gonçalves Cerejeira tencionava publicar os livros de versos "Canções Vermelhas" e "Alma Rebelde", assim como também um livro de contos. Colaborou em "O Instituto" (Coimbra) e em "A Arte" (Porto). Apenas publicou "Cinzas" (1896), com recepção de Sebastião de Carvalho, na "Nova Alvorada" e de Sousa Fernandes em "O Porvir", e "Os Bohemios" (1898), no ano em que acabou a formatura.





Em Vila Nova de Famalicão colaborou no jornal "O Porvir", publicando aqui as suas famosas "Palavras Vermelhas" e no jornal "Estrela do Minho". " "Semanário Ilustrado" de Lisboa "Branco e Negro", de 29 de Fevereiro de 1898, caracteriza o seu pensamento de seguinte forma: "Hoje, apesar da melancolia em que o seu espírito parece ainda envolto, evolucionado para uma fase mais humana e positiva, fora de todas as escolas pela sua própria individualidade estética e pensante, com uma educação superior, visando o útil e a humanidade, sem nefelibatices, numa linguagem luminosa e alegre como o nosso sol e o nosso vinho, temperado apenas pela sentimentalidade amorosa e aventureira que caracteriza a alma portuguesa, ..."





A Comissão Municipal do Partido Republicano de Vila Nova de Famalicão homenageou Gonçalves Cerejeira em 1909, mais propriamente em 14 de Novembro no Centro Republicano Bernardino Machado, dez anos após o seu falecimento. A homenagenm constou da instalação do seu retrato na nova sede da comissão republicana famalicense, liderada então por Sousa Fernandes, o futuro presidente da Câmara de Famalicãso a seguir à implantação da República em Portugal. Esta nova sede ficava, conforme nos diz o "Estrela do Minho" de 21 de Novembro de 1909, "instalado num prédio contíguo ao Hotel Vilanovense". Considerou então Sousa Fernandes, na abertura da sessão, que Gonçalves Cerejeira "foi um valioso e dedicado partidário", e quem lhe faz emtão o elogio público é o futuro governador civil de braga, logo a seguir à implantação da República, Manuel Monteiro. A seguir à intervenção de Manuel Monteiro, Bernardino Machado proferiu a comunicação "Têm Liberdade os Monárquicos em Portugal?".






Amadeu Gonçalves

Do projecto literário "Dicionário de Literatura Famalicense: século XVIII a XX"







sábado, 23 de julho de 2011

trutas no rio ave

não deixa de ser curiosa a existência de uma "estação aquícola do ave" em famalicão, virada para a produção de trutas. já no século xix, mais propriamente em 1893, o barão de trovisqueira, josé francisco da cruz trovisqueira, chamava a atenção a bernardino machado, então ministro das obras públicas, agricultura e indústria, no governo de hintze ribeiro, para a formação de uma comissão de piscicultura em famalicão, pedindo a machado que intercedesse junto do ministro que a a sua constituição fosse uma realidade no concelho de famalicão.











Sant`Anna Dionísio - "Viveiro de Salmonídeos". In O Primeiro de Janeiro. Porto, Ano 103, n.º 271 (2 Out. 1971), PP. 1, 10.







segunda-feira, 11 de julho de 2011

ser simplesmente povo





Para o Professor João Medina, o “Zé Povinho” é “como uma sinopse da própria mentalidade do povo que o engendrou e nele, através dum (duplo) diminutivo tão revelador, se tornou nosso símbolo, totémico retomado por inúmeros cartoonistas ao longo da monarquia constitucional, da I República e, após a longa vigência da censura ditatorial, ressurrecto após o 25 de Abril, ainda que nos custe aceitar como nosso retrato verídico essa imagem deprimente e incomodamente labrega que nos espreita do fundo do nosso espelho colectivo, aquele rosto bronco de pascácio rural, de campónio mal vestido, barba rala, colete e chapéu preto de rústico, calças de fazenda ruim, mãos nos bolsos, riso alvar, espécie de resignado Sancho Pança sem um cavaleiro da Triste Figuras que o quixotize e lhe comunique um Ideal superior.” Foi nestes termos que o Professor João Medina caracterizou o “Zé Povinho” que no define na conferência com o título “Rafael Bordalo Pinheiro, Criador do Zé Povinho”, no âmbito da exposição que se encontra patente no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, dedicada à vida e à obra do caricaturista português.
Na sua “incursão transcendente”, propôs o Professor João Medina (numa sessão bastante concorrida de público) a explicação, a partir do momento em que a apareceu, o mito do “Zé Povinho” e do seu gesto simbólico numa perspectiva da antropologia social. Tais símbolos, numa linguagem gestual, são símbolos contextualizados psicologicamente, sociologicamente e historicamente. Símbolos históricos, digamos, com uma carga psicológica e sociológica perante um determinado momento social configurado historicamente. Sempre ao lado da história existiram os ditos “parvos” e os “idiotas”, os quais através de parvoíces revelam as verdades: é o caso do bobo medieval, do parvo vicentino ou o nosso “Zé Povinho”, que através de uma linguagem gestual e, neste caso, obscena, promove o estado de espírito e de sítio socialmente revelado. Aliás, o único gesto obsceno do “Zé Povinho” é o manguito, linguagem simbólica tipicamente portuguesa, sendo este o seu gesto mágico, servindo o mesmo gesto para quebrar algo nefasto, o gesto da dissuasão, interpretando-o o Professor João Medina numa perspectiva de edificação sexual masculina, apesar de possuir um mecanismo psicológico complexo que poderá ter várias interpretações. É o gesto do “Ora Toma!” Diz o “Zé Povinho” a Paiva Couceiro: “Ai querias a Monarquia? Ora Toma!” O “Zé Povinho” surgiu pelo lápis de Bordalo Pinheiro na “Lanterna Mágica” em 12 de Junho de 1875. Neste desenho, o que a simbologia caricatural carrega é, precisamente, o problema do fisco, o “Zé Povinho” vítima dos impostos. Por seu turno, o de 1887 é a caricatura face aos políticos e uma vez mais o fisco; o de 1899 é o “Zé Povinho” do desespero, desesperado face ao poder governamental, enquanto que o de 1910 é o da ilusão e da esperança. Citando Ramalho Ortigão, diz-nos o Professor João Medina que o “Zé Povinho” só poderá deixar de ser simplesmente “Zé Povinho”, quando passar a ser simplesmente povo, representando a verdadeira Democracia.
Em 1880 surge uma dialéctica estranha em Portugal, entre o “Camões” dos republicanos e o “Zé Povinho” de Bordalo Pinheiro: sem em “Camões” temos o emblema da Pátria, o totem por excelência literária e histórico-cultural do País, com o “Zé Povinho” deparamo-nos com o País Real. Camões é a transcendência (um Camões que já desde Almeida Garrett o que ria fazer a figura, a voz e o rosto da portugalidade, reatar o próprio feito para ser recordado pela geração futura, isto em 1825, numa altura em que já tinha visto o quadro, em Paris, de Domingos António Sequeira, entretanto desaparecido, e ouvido a música camoneana de Domingos Bom Tempo, renascendo a ideia com a regeneração, pretendendo salvaguardar o tempo da memória, com a inauguração da estátua em 1867, em Lisboa, de Vítor Bastos), o mito da Pátria feita palavra duradoura e eterna; por outro lado, temos o “Zé Povinho”, que é o português real, autêntico, o resignado, a vítima que não faz mal a ninguém, mas que é espezinhado, carregando as “espigas” e as “albardas” governamentais, representando tudo aquilo que ninguém quer, sem utopias, revoltando-se de vez em quando numa explosão de descontentamento. Está simplesmente há espera 136 anos para deixar de ser simplesmente “Zé Povinho” para passar a ser simplesmente povo.

sábado, 2 de julho de 2011

a cultura no opinião pública 20 anos


para o dr. artur sá da costa, pelo quanto a cultura nos uniu numa amizade fraterna de actividades fantásticas, durante mais de vinte anos, ainda trabalhava na biblioteca da fundação cupertino de miranda, o meu abraço fraternal de amizade eterna




A CULTURA NO OPINIÃO PÚBLICA
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Antes de mais nada, tive sempre o grato prazer de colaborar com voluntarismo no jornal “Opinião Pública” desde o seu primeiro momento, particularmente desde o seu número zero. Sá da Costa incentivava-me e o Luís Paulo Rodrigues lá ficava preocupado com os meus textos dactilografados há máquina de escrever por causa da paginação do jornal; mas acabava sempre por dar aquele seu toque de saber jornalístico único e já reconhecido.
Se a cultura hoje pode ser considerada como o conjunto de traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afectivos que caracterizam uma sociedade ou uma comunidade, podemos dizer que a cultura abarca, além das artes e das letras, os modos de vida e os direitos fundamentais do ser humano, os sistemas de valor, as tradições e as crenças, o jornal “Opinião Pública” cumpriu e tem cumprido a sua tarefa ao longo dos seus vinte anos de existência. Tem divulgado não só os escritores famalicenses, como igualmente os nacionais e os internacionais, abriu as suas páginas a escritores e a pensadores do Vale do Ave e das cidades circunvizinhas (por exemplo, Artur Coimbra, de Fafe, que escreveu sobre política e cultura, Santos Simões, de Guimarães, Pedro Leitão, de Braga, ou Manuel Lopes, da Póvoa de Varzim), as actividades culturais do Vale do Ave e de outras localidades alem fronteiras, algumas em parceria com o município famalicense, não esquecendo igualmente as tradições populares de Famalicão e do seu concelho (evidentemente e, sempre em foco, o nosso Santo António, com os trabalhos de investigação de Artur Sá da Costa, provando que as Festas Antoninas são já centenárias). Deu amplo destaque ao Ciclo Pensar os Pensadores (Alberto Sampaio e Antero de Quental), uma actividade organizada em parceria entre o município famalicense e a Sociedade Martins Sarmento, realizado em 1991, deu amplo destaque às homenagens nacionais de nascimento ao republicano famalicense Nuno Simões (1994), ou o mesmo acontecendo com a ampla referência à exposição “Uma Aproximação aos Autores Famalicenses”, assim como à respectiva “Antologia” (1998). Não esqueceu o património, as associações, existem polémicas culturais (do papel da cultura na política) e literárias e uma faceta marcou o jornal na sua fase inicial: amplas entrevistas aos escritores (como igualmente a artistas plásticos) que então passavam por Vila Nova de Famalicão. É o caso de Mário de Carvalho, Maria Velho da Costa ou Maria Isabel Barreno, os primeiros escritores que ganharam o Prémio do Conto Camilo Castelo Branco. O jornal publicaria, então, as duas intervenções (relativamente a Mário de Carvalho e a Maria Isabel Barreno) de Manuel Simões. José Manuel Mendes, Eduarda Dionísio ou o nosso cineasta Manuel de Oliveira também se encontram no “Opinião Pública”; e, em 1999, a vinda de José Saramago a Vila Nova de Famalicão mereceu outro destaque ímpar, não só no jornal, como na própria revista, a qual apareceu a 30 de Novembro de 1995 e com o mesmo nome do jornal (o “Opinião Pública” reapareceu novamente como jornal semanal em 18 de Outubro de 1996, integrando a revista, que já não existe). [Gostava aqui de salientar o Centenário do Falecimento de Ana Plácido comemorado em Famalicão, em grande foco no jornal, o qual seria ainda elaborado por Manuel Simões, mas com Pinto de Castro nos trabalhos. Realço igualmente o suplemento que o jornal dedicou à inauguração da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, em 1992...].A internacionalização é em 1993 com a vinda de Jorge Amado a Braga. Com o andar do tempo, a cultura manifesta-se, nas páginas do jornal, simplesmente nas simples notícias das actividades culturais das instituições públicas e privadas, reservando, a partir de determinada altura, a penúltima página para o efeito. E hoje, como não poderia deixar de ser, o jornal digital, a FAMA TV, assim como a Digital FM, acompanham a história do presente para o futuro.







P. S. este texto, que vai sair no jornal na próxima quarta-feira, tem um lapso: o segundo discurso de manuel simões que publicou é sobre maria isabel barreno e não sobre maria velho da costa. aqui acrescento o centenário de falecimento de ana plácido e o número que o jornal publicou em 1992 dedicado à biblioteca municipal camilo castelo branco, a caminho do seu centenário, filha da república. apresento alguns trabalhos num filme que então foram publicados ao longo destes anos.








o zé povinho e joão medina



No âmbito da exposição que se encontra patente ao público no Museu Bernardino Machado, em Vila Nova de Famalicão, até 28 de Agosto, e que se chama Vida e Obra de Bordalo Pinheiro, organizada pelo Museu Bordalo Pinheiro, de Lisboa, e cedida a título de empréstimo, a Câmara Municipal de V. N. de Famalicão e o Museu Bernardino Machado convidaram o Professor João Medina para proferir a comunicação Rafael Bordalo Pinheiro, inventor do mito nacional, Zé Povinho, estereótipo luso, a qual se realizará no próximo dia 8 de Julho, pelas 21h30, no Museu famalicense. Professor catedrático jubilado de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, João Medina nasceu em Moçambique (1939), licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa (1966) e doutorou-se em Sociologia na Universidade de Estrasburgo (1970), tendo ensinado, de 1970 a 1974, na Universidade de Aix-en-Provence (França). Após a revolução portuguesa de 1974, regressou ao seu país, foi Director-Geral no Ministério da Comunicação Social (1975-1977), regressando depois ao ensino universitário. Jubilado em 2008. Ensinou ainda nas Universidades de Colónia (Alemanha), Pisa (Itália), USP (São Paulo, Brasil), Johns Hopkins University e Brown University (Estados Unidos) e fez conferências nos Estados Unidos da América do Norte, Espanha, Brasil (Universidades de Brasília, USP, Unicamp, Araraquara, Assis, etc.), Alemanha (Bona, Rostock, Francoforte e Colónia), Itália, França, Moçambique (Universidade Eduardo Mondlane), Israel, etc. Foi director da Revista da Faculdade de Letras de Lisboa (1993-1997), dirigindo desde 2002 a revista Clio. Dirigiu, de 2002 a 2005, o Centro de História da Universidade de Lisboa.
Colaborou como cronista no Diário de Lisboa (1968 em diante), Diário Popular (desde 1975), Diário de Notícias (a partir de 1974), na revista Seara Nova (1962-74), sendo, actualmente, colunista no Jornal de Letras. É autor de uma extensa obra distribuída pela historiografia, pelo ensaio literário e pelo romance. Dirigiu uma História de Portugal (15 vols, 1994; reed. 1998), tendo publicado ainda Salazar e os Fascistas (1979), Morte e Transfiguração de Sidónio Pais(1994), Eça e a Geração de 70 (Lisboa, 1980), Oh! a República!...(1990), As Conferências do Casino e o Socialismo em Portugal (1984), A Ilha está cheia de Vozes (romance, Lisboa, 1978), Reler Eça (Lisboa, 2002), Salazar, Hitler e Franco (Lisboa, 2000), Ulisses o Europeu (Lisboa, 2000), Memórias do Gato que ri (romance, Lisboa, 2002), Dois Exilados alemães (Cascais, 2003), Zé Povinho sem Utopia (Cascais, 2004), Ortega y Gasset no Exílio português (Lisboa, 2004), Auschwitz e Moscovo (Lisboa, 2006), Portuguesismo(s)(Lisboa, 2006), Náufragos do Mar da Palha (romance, 2006), , O “Presidente-Rei” Sidónio Pais (Lisboa, 2007), Caricatura em Portugal (Lisboa, 2008), etc.
Recorde-se que o Professor João Medina já colaborou com o Museu Bernardino Machado no catálogo Caricaturas Bernardino Machado e com o texto A Caricatura Política em Portugal: brevíssima sinopse histórica, em 2007.